Resumos das Conferências


Claudia Pazos-Alonzo
Florbela e Maria Lúcia, clarividências
   
Nascida cinquenta anos depois de Florbela Espanca, Maria Lúcia Dal Farra foi em larga medida responsável pelo reconhecimento de sua antecessora através de sucessivas exegeses ao longo de mais de trinta e cinco anos, nas quais o rigor académico se encontra exemplarmente aliado a um alto grau de empatia. Esta apresentação aborda brevemente algumas coincidências biográficas entre as duas, enfatizando como ambas superaram circunstâncias adversas através da clarividência luminosa de suas respetivas escritas (no caso de Maria Lúcia geralmente desenvolvida em contexto académico). Em seguida debruçar-me-ei sobre a forma como Dal Farra concebe e transforma a herança de Florbela, assente numa poética que valoriza a performance comunicativa. O foco da sua prática criativa incidirá aqui principalmente sobre um conjunto de poemas central na obra Terceto para o fim dos tempos, de 2017, a saber ‘De Florbela para Pessoa. Com amor’ no qual Dal Farra imagina, num ato de profícua re-visão, um diálogo entre estas duas figuras cimeiras, ambas (des)igualmente incontornáveis no panorama cultural português das primeiras décadas do século vinte. Além disso, iremos indagar em que medida a estrutura mais ampla desta obra de Dal Farra ressoa ainda porventura com a prática artística de Florbela, embora abrace necessariamente novos caminhos. Algumas linhas de força temáticas, que vão das múltiplas 'Poéticas' apresentadas por Dal Farra às suas inflexões deveras avassaladoras de imagens da maternidade, colocam o seu trabalho em comunhão com a obra de Espanca, nomeadamente através de uma genealogia alicerçada no corpo feminino.

Ana Luísa Vilela
La dame à la poésie. Sentido e sentidos na poesia de Maria Lúcia Dal Farra

Nesta comunicação, procurarei abordar alguns poemas constantes de Livro de Possuídos (2002) e Alumbramentos (2011), dois livros que Maria Lúcia Dal Farra dedica ao diálogo com pintores e poetas. Nestas duas obras, a criação poética de Maria Lúcia pode assim aliar o momento fulgurante e arrebatado do apelo emocional, próprio da fruição visual e sincrónica, ao tempo vagaroso do amadurecimento, condimento e partilha, adequado ao processo de absorção lenta e degustativa. Em ambos os livros, essa poética da incorporação solidária e sensorial constitui, ainda e sempre, uma via para tatear o obscuro.

Hélder Garmes
Reflexão e memória em Inquilina do intervalo, de Maria Lúcia Dal Farra

O livro de contos Inquilina do intervalo, de Maria Lúcia Dal Farra, publicado pela Editora Iluminuras em 2005, traz um conjunto de histórias marcado pelo viés da memória. A vida de famílias de imigrantes europeus no Brasil ganha espaço em algumas dessas histórias, chegando a se constituir em um ciclo de contos, quando as mesmas personagens passam de um conto a outro. O intuito dessa comunicação e demonstrar como essa memória acaba por se constituir em uma reflexão sobre a vida corriqueira de personagens que vivem dramas também bastante corriqueiros, mas repletos de densidade psicológica e valores humanitários.

Zuleide Duarte
Florbela Espanca, Cecília Meireles e Alphonsina Storni; diálogos (in/im) pertinentes?

Pensar a produção literária da poeta portuguesa Florbela Espanca em um Portugal recém-saído do século XIX,  adentrando, timidamente o século XX, faz avultar ainda mais a importância do seu papel para a história da mulher lusitana e sua inserção no fechado universo "masculino" da literatura. A audácia de Florbela Espanca, sua escrita livre das peias da censura que confinava a mulher ao recesso do lar também encontra eco em autoras do quilate  da argentina Alphonsina Storni, a brasileira Cecília Meireles entre tantas outras. Propõe-se a leitura de poemas das autoras, apontando um diálogo que se estabelece a partir de escolhas temáticas e modos de cultivar a literatura. 

Flávia Maria Corradin
Florbela à luz da intertextualidade

Perspectiva crítica por excelência, a intertextualidade tem-se revelado um profícuo caminho a ser trilhado. Neste contexto foi criado o Projeto Autor por Autor, credenciado junto ao Programa de Pós-graduação em Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo e certificado junto aos Grupos de Pesquisa do CNPq. Tal Projeto objetiva estudar autor ou obra ou fato histórico inscrito no universo lusíada, partindo do enfoque crítico apresentado por textos teatrais, poéticos ou ficcionais. Graças à polifonia decorrente desta perspectiva intertextual, confrontar-se-á a visão crítica do intertexto com a apresentada pela bibliografia dedicada ao paradigma. Dentro deste escopo intentamos, nesta comunicação, retomar a figura de Florbela Espanca à luz de duas peças, ambas intituladas Florbela, escritas em 1991 por autores nascidos em 1949, uma escrita portuguesa Hélia Correia (*Lisboa) e outra pelo dramaturgo brasileiro Alcides Nogueira (*Botucatu – SP). A perspectiva intertextual exige examinarmos a relação que se estabelece entre paradigma e intertexto, tendo em vista a busca de respostas a questões como; qual o nível de diálogo que os textos supracitados travam com a obra florbeliana?; qual o valor estético que as duas peásreveam?; qual a contribuição de tais textos para a fortuna crítica da obra de Florbela Espanca? Além de homenagear a autora de Mágoas e Maria Lúcia dal Farra, esta comunicação pretende homenagear Francisco Maciel Silveira, recentemente falecido, idealizador do projeto supracitado e também do esboço desta comunicação.






Robin Driver
Virgem, sedutora, castradora: as contradições de Florbela Espanca segundo Natália Correia

No seu prefácio para Diário do Último Ano (1982), volume que apresenta o diário escrito por Florbela Espanca no seu último ano de vida, Natália Correia recorre à mitologia clássica e ao conceito do eterno feminino para pintar um retrato um tanto contraditório da poetisa, que caracteriza pela “dualidade sedução-castidade” da sua poesia. Com essa construção, também traça uma estreita ligação entre a biografia e a obra de Florbela, reflectindo e reforçando uma corrente comum na crítica escrita acerca da poetisa.
Não é a única vez que Florbela e a sua obra foram focalizadas pela autora açoriana, que já tinha evocado a poetisa na sua Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1965) e voltaria a tratar do mesmo assunto no programa de televisão Mátria (1986-88) e no filme Soror Saudade (1983).
Através dessas e outras intervenções, Natália transforma Florbela em uma figura quase mítica, inserindo-a em uma linhagem de autoras e poetisas que atravessa a história da literatura portuguesa e simultaneamente excluindo-a da mesma.
Este estudo propõe debruçar-se sobre a representação de Florbela Espanca e a análise da sua poesia na obra de Natália Correia, a fim de melhor compreender o lugar que ocupa dentro das teorias desta última sobre o sexo e a arte poética. Assim, ao conjugar essas considerações com leituras da própria obra florbeliana, objetiva-se problematizar o posicionamento de Natália relativamente à poetisa e matizar a nossa compreensão das suas críticas e elogios.
Ao mesmo tempo, almeja-se reflectir sobre a recepção maior da obra de Florbela a partir das perspectivas propostas por Natália, com o duplo objetivo de contextualizar as suas posições e avaliar a sua contribuição para os estudos florbelianos.

Marisa Mourinha
À procura de Florbela – entre biografia e mitografia, do caso humano ao caso poético

Diz-se que a obra de um poeta é a sua biografia, mas poucos autores terão visto a sua obra poética tão secundarizada relativamente ao seu percurso de vida como foi o caso com Florbela Espanca. Escrutinada, insinuada, criticada e louvada, cristalizada em boatos que se tornaram mitos fundadores, a biografia desta autora frequentemente se sobrepõe, no imaginário público, ao conhecimento da obra, e as narrativas biográficas condicionaram desde o início a recepção e a interpretação da sua obra.
A crítica, desde o início, tocou estes temas e exibiu estas preocupações – desde a conferência de Jorge de Sena n'Os Fenianos aos estudos que continuam a fazer-se, a promiscuidade entre vida e obra é, neste caso, tão gritante que se torna impossível não tomar posição. O estudioso de Florbela acha-se, então, na situação inusitada de ter de proceder a uma espécie de reabilitação propedêutica da autora, sem poder limitar-se a ignorar, nos escritos que antecedem o seu, o moralismo da crítica, a hipocrisia da abordagem, ou os danos causados por editores e biógrafos criativos, quando não mal-intencionados (como diz Agustina de Battelli).
O objectivo desta comunicação é propor uma reflexão sobre o papel do estudioso perante as ambiguidades que se lhe apresentam no caso florbeliano, esse “caso humano” (no dizer de Régio) que tanto se teima em constituir como caso poético.

Joëlle Ghazarian
Florbela Espanca, uma visão oblíqua

Na minha comunicação, pretendo apresentar Florbela prisioneira, pela sua própria dissidência, e livre, por dolorosamente recusar a adaptação  e a vida mutilada. A simultaneidade dessa paradoxal contradição seria exposta através do íntimo ligamento de quatro dimensões:
- A sua linguagem lancinante, mas fulgurante, que fulmina.
- A sua imersão no passado, com o seu característico desejo do instante.
- A relação entre o desejo, físico, e a criação absoluta do amor.
- A criação poética, impeditiva de que a vida se encontre fora de si mesma.
Paradoxalmente, os seres predestinados encontram-se por vezes à beira do irrisório e do ridículo, num desequilíbrio que os coloca entre a humilhação e a arrogância, involuntariamente solitários, mas agindo assim também por convicção. Ou seja, situados num terreno mental que os lança para além da mesquinhez comum e daquilo que é a tão limitada sociabilidade canónica. Foi por isso [por essas coisas] que Flor passou, na vida e na escrita.

Rogéria Alves Freire
A subversão do papel feminino em Florbela Espanca e Mariana Alcoforado

Este trabalho tem como propósito analisar a subversão do papel feminino na obra das escritoras portuguesas Florbela Espanca e Mariana Alcoforado. Ambas constroem uma imagem feminina que foge aos padrões impostos pela sociedade portuguesa, negando o seu papel de submissão, assumindo o desejo que habita o seu corpo e afirmando-se como sujeito. É possível identificar o fato de que as Cartas Portuguesas são antecedidas, estilística ou tematicamente, pelas cantigas de amor e de amigo, e sucedidas por obras como Livro de Sóror Saudade, de Florbela Espanca, rompendo a inércia e a resignação atribuídas à histórica condição feminina.

Maria Raquel Álvares
A reinvenção do sentir poético dialógico in Livro de Mágoas, de Florbela Espanca e Amanhã Amadrugada, de Vera Duarte.

Florbela Espanca (1894-1930) e Vera Duarte (, duas mulheres que viveram em épocas de mudanças ideológica, política, cultural e social. A primeira, poetisa finissecular, contemporânea dos movimentos de uma era caracterizada pela proclamação da Primeira República, I Guerra Mundial e início do Estado Novo e a segunda, escritora em prosa e poesia da pós-independência de Cabo Verde, representativa da geração Mirabílica, defensora de ideais, igualmente numa sociedade em mutação.
Livro de Mágoas (ou Livro das Mágoas) (1919), o primeiro livro de poemas de Florbela Espanca cuja escrita de forte lirismo emotivo centra-se nas temáticas da mágoa, da dor e da saudade desenvolvidas e articuladas em momentos sequenciais com o sonho, a procura, o desejo e a insatisfação.
Amanhã Amadrugada (1993), primeiro livro de poesia de Vera Duarte, cuja escrita poética marcada por um lirismo que espelha desabafos, confissões, inquietações e desassossegos, não foge às temáticas postas pela escrita de Florbela Espanca
Neste trabalho científico pretende-se acentuar as influências dialógicas entre as duas recolhas de poemas e a reinvenção temática já vinda do século XIX, continuada por Florbela Espanca e retomada por contato e assimilação cultural na escrita poética de Vera Duarte.
No que diz respeito aos dois livrinhos em versos, deve-se fundamentar que a escrita literária de ambas instaura novos olhares de cariz reflexivo consequente de um lirismo feminino desafiador e mutante. Ambas pensam e sentem em verso. O poema de Vera Duarte “Mas, qual Florbela, sinto que a minha sede de infinito é maior do que eu, do que tudo, e por ela me ofereço” in O Arquipélago da Paixão servirá de ligação intertextual ao conjunto dos 32 poemas do Livro de Mágoas.
Para apoiar esta investigação serão abordados alguns poetas e teóricos: Paul Verlaine, Eugénio de Castro, Arthur Rimbaud, Mallarmé, Harold Bloom, M. Bakthin, Ernest Bloch, T.S. Eliot, Julia Kristeva, John Keats, Antero de Quental e outros.
Palavras-chave: Florbela Espanca, Literatura Portuguesa, Vera Duarte, Literatura Caboverdiana e dialogismo.

João Estaca
Um retrato da Dor nos sonetos de Florbela Espanca com focalização no Livro de Mágoas

Desde da descoberta de Florbela Espanca na minha juventude, percebi que o meu trabalho de investigação no Diploma Programme passaria incontornavelmente pela obra desta poetisa. Retomei a leitura dos sonetos de Florbela Espanca e os poemas do Livro de Mágoas surtiram grande impacto em mim. Por isso, estudei mais sobre eles e os temas que eles tratam, contudo apesar da importância dos temas, não pude deixar de admirar o engenho retórico com que Florbela verteu a sua dor e mágoas para sonetos sublimes. Propus-me a analisar extensivamente uma seleção de poemas em que achei a Dor como tema central, estava determinado a apurar as imagens usadas, a retórica e estrutura que tornam os sonetos de Florbela Espanca únicos. Estes dão-nos acesso à sua personalidade e aos problemas que advém da complexidade mesma. Este trabalho levou-me a descobrir este caso de “poesia viva” de uma alma gémea e de igual genialidade como Fernando Pessoa considerava.





Adriana Sacramento e Iracema Goor Xavier
Corpo político: espaço de arte, literatura e liberdade em “Terceto para o fim dos tempos”, de Maria Lúcia Dal Farra.

Este texto é parte dos  estudos realizados, por meio de atividade pós-doutoral, com a Universidade Autônoma de Tamaulipas/Tampico/México e parte concernente aos estudos produzidos por meio do grupo de pesquisa “Figurações do Feminino: Florbela et alii”. Neste campo de interlocução, pretendemos escrutinar a poética feminina (autoral) como um discurso de liberdade e de consciência de si, e que, por isso mesmo, engendra um corpo/espaço político. O que visualizamos é que, através deste estudo, venha à tona certa tópica sobre o feminino que descortine e revele uma voz autoral possuída de liberdade e que rompa a circunscrição dos espaços e das relações sociais castradoras. Nessa medida, essas vozes produzem corpos políticos. É o que veremos eclodir na poesia de Maria Lúcia Dal Farra em seu “Terceto para o fim dos tempos”. Para tanto, usaremos como fonte de pesquisa teórica o texto de Marcuse “Eros e Civilização”.

Patrícia da Silva Cardoso
As palavras e suas formas concretas. Uma poética de Fiama Hasse Pais Brandão

Um dos motivos para celebrar-se a atividade de Maria Lúcia dal Farra como crítica literária é a facilidade e propriedade com que se desloca entre autores e temas, numa carreira que, tendo um objeto de eleição mais do que declarado – a Florbela que figura ao seu lado no quadro das homenagens deste evento –, é capaz de abarcar poesia e prosa, oferecendo a quem a acompanhe um exemplo de que para ser-se um especialista é preciso conhecer-se o fenômeno literário de maneira ampla. É o que se encontra no seu artigo “O cisne e seu canto: leitura dos poemas de Fiama por Adília Lopes ou Fiama na letra de Adília”, em que sua erudição é mobilizada para dar conta de um diálogo literário que inscreve as duas poetisas do título numa densa reflexão sobre o lugar da poesia. Inspirada por essa trajetória de Maria Lúcia, nesta comunicação proponho-me a voltar a Fiama procurando pensar sobre como ela aborda o lugar da literatura tanto em sua obra poética homenagem à literatura como no romance Sob o olhar de Medeia.

Rafael Campos Quevedo
Metáfora náutica na lírica amorosa de Maria Lúcia Dal Farra

Propõe-se uma reflexão acerca do emprego de uma metáfora pertencente ao patrimônio da poesia ocidental, a metáfora náutica, na obra da poeta brasileira Maria Lúcia dal Farra (2011) especialmente no poema intitulado “Amor” (do livro Alumbramentos de 2011). Para esse objetivo, discute-se a metáfora náutica como um topos da poesia tradicional à luz das considerações de Ernst Robert Curtius, verificam-se casos exemplares de seu emprego colhidos da tradição e, também, de poetas contemporâneas brasileiras (como Ana Cristina César [1979], Orides Fontela [1983], Neide Archanjo [1984] e Hilda Hilst [1989]). Por fim, parte-se para a análise do corpus tentando averiguar possíveis deslocamentos, variações e marcas que sirvam como indício de uma reconfiguração feminina da metáfora poética da viagem marítima em sua relação com a temática amorosa.

Matteo Pupilo
Traduzir FlorLúcia em italiano

Esta comunicação visa abrir um espaço de reflexão, quer de natureza tradutológica, quer meramente literária, sobre alguns poemas de Maria Lúcia Dal Farra que eu publiquei em Itália graças à revista “Atelier Internazionale”. Nessa mesma revista, as traduções saíram acompanhadas de uma entrevista, onde a poetisa, entre as várias perguntas, revela que “escrever é sempre uma imensa, enorme, transbordante, inimaginável, dolorosa alegria”. A poesia de Maria Lúcia Dal Farra nasce de uma “mistureba” étnica e artística, como ela própria diz na entrevista mencionada, sendo que, para a autora, a Poesia é um lugar privilegiado onde misturar Arte, memórias e encontros (imaginários e reais) com autores mortos e vivos. Em última análise, sentindo a necessidade de dar a conhecer uma obra que considero "inter-artes", venho lançar um novo desafio editorial: de modo a suprimir a ausência de traduções no mercado editorial italiano, pensei em lançar uma antologia poética traduzida para “la lingua del Sì”.

Deolinda Adão
Diálogos Poéticos em Tons de Lilás e Roxo.

Neste trabalho, o nosso objetivo primordial é fazer uma leitura das obras de Florbela Espanca e Maria Lúcia Dal Farra desde uma perspectiva feminista, mais especificamente analisar a forma como as respectivas obras desenvolvem um processo de identidade feminina tanto ao nível individual como colectivo. Estas duas poetas, uma ávida estudante da outra, complementam-se, sendo uma a poeta da introspeção e a outra a da contemplação. Assim, se Florbela nos transporta ao interior do mundo feminino em todas as suas nuances, Maria Lúcia leva-nos à centralidade do pensamento feminino sobre a sociedade e o mundo que nos rodeia. Ambas se constroem e nos constroem, por via de uma escrita dotada de complexidades que a cada momento evidenciam o cerne do espaço do feminino nas suas respetivas sociedades e nos transmitem vozes femininas que assumem agência absoluta sobre os seus respetivos processos de construção de identidade.

Maria Cristina Pais Simon
A escrita da natureza na obra de Florbela Espanca

A natureza e a paisagem, em particular as do Alentejo, contextualizam sistematicamente os textos de Florbela Espanca como testemunhos da sua vida interior. Pretende-se nesta comunicação analisar, na sua simbólica, os elementos paisagísticos mais recorrentes e observar a variação da focalização ao longo da obra e da vida atribulada da « filha da charneca ».


Maria do Carmo Mendes
Eros e Thanatos: a poesia de Florbela

Indelevelmente marcada por um percurso biográfico tumultuoso, a obra de Florbela Espanca revela uma íntima associação entre Amor e Morte. Entendido como irrealização terrena, o Amor é projetado numa dimensão transcendente, geradora de angústia permanente.
Esta comunicação tem, assim, como principais propósitos: 1) Aprofundar a relação entre Amor e Morte na obra poética florbeliana; 2) Sublinhar o relevo da busca constante da concretização amorosa; 3) Pôr em evidência o papel precursor da obra de Florbela no contexto da poesia portuguesa, pela afirmação do papel feminino na procura da plenitude amorosa.

Isabel Ponce de Leão
Florbela – um absoluto icárico

A vida e a obra de Florbela estão marcadas pelo desejo do absoluto que, naturalmente inatingível, gera desesperos e angústias que explodem, incontrolada e orgásticamente, numa literatura onde lirismo e drama se imbricam. Reflectirei nesta iteração geradora do hibridismo textual.


Antonio Alías
Ser poeta: consciência crítica e pensamento poético em Florbela Espanca.

Longe dos tópicos modernistas em que a poesia de Florbela Espanca foi entendida, alguns dos seus poemas mostram uma consciência crítica em torno da figura do poeta ("Ser poeta") e que, não entanto, mantém a formulação de uma crise auto-contemplativa ou auto-referencial própria da condição do poeta. Assim, o gesto reflexivo de Florbela Espanca apenas aborda questões de identidade, mas a própria possibilidade de escrita vinculada, como ocorreu em algumas das poéticas mais importantes do romantismo, a uma consciência estética que busca legitimar, assim por meio da auto-exploração, a propensão especulativa das formas da escrita moderna. Nesse sentido, a proposta de comunicação tentará aprofundar sobre essas questões nos poemas da poeta portuguesa, ao mesmo tempo que legitima a sua poesia como um lugar de pensamento (poético) na modernidade literária.

Algemira de Macêdo Mendes e Joselita Izabel de Jesus
Um olhar feminino sobre Charneca em Flor, de Florbela Espanca

O presente trabalho tem como objetivo oferecer uma leitura sob o olhar feminino do livro Charneca em flor (1931), da poetisa lusitana Florbela d’Alma da Conceição Espanca (1894-1930), autora considerada uma das maiores vozes feminina da poesia portuguesa do século XX e, quiçá, de todos os tempos. Poetisa plural, Florbela não limitou sua arte poética a apenas uma temática. A autora abordou, em seus poemas, temáticas como a angústia, a solidão o desencanto pela vida e, sobretudo, a dor. No entanto, dentre os diversos temas que podem ser encontrados no fazer poético de Espanca, há um que sobressai, principalmente na obra objeto desse estudo: trata-se da temática do amor erótico. Este será o princípio que norteará nossa abordagem interpretativa da obra Charneca em flor. Para tanto, recorreremos a autores, como: BATAILLE (2004), DURIGAN (1985), DAL FARRA (2001), para fundamentar as possíveis análises no decorrer da leitura da obra, evidenciando os elementos pelos quais o eu lírico expressa o desejo feminino na poesia de Florbela Espanca.

António Laginha
A poesia de Florbela Espanca na dança portuguesa: dois casos de estudo

Pela mão de Terpsícore - a musa da Dança - três coreógrafos aventuraram-se
nos domínios de Erato e de Florbela Espanca. Homenagem a Florbela e
Florbela, respectivamente de Norman Dixon e da dupla Liliane Viegas - José
Arantes, são duas obras históricas que, em momentos diferentes e dentro de
enquadramentos estéticos quase opostos, mostram duas Florbela-poetisa
imaginadas por artistas da Dança. Através de dois curtos excertos de obras
filmadas pela RTP (em 63 e 89) mostra-se como o bailado tem proporcionado um
campo fértil para um diálogo curioso e profícuo entre a poesia e a dança. E,
mais precisamente, entre os sonetos de Florbela Espanca e a Dança
Portuguesa.

Aldinida Medeiros
A charneca Terra Mater na escrita florbeliana

Esta comunicação parte da observação de como a Charneca, que dá nome a um dos livros e seu poema de abertura – Charneca em Flor – da altaneira poeta alentejana, é um termo importante em sua poética. Em diversas situações, Florbela Espanca apresenta o termo não apenas remetendo a sua admiração e envolvimento com a Charneca, mas tecendo uma relação identitária com sua variada flora, principalmente com as urzes, planta arbustiva que tem pequenas e delicadas flores de cor lilás. Com base nesta observação, buscamos evidenciar uma relação simbiótica do eu poético com o espaço que é de memórias e afeto, confluindo para uma poética do espaço que motiva e ao mesmo tempo encontra ressonância nos diversos estados de Florbela Espanca. Constituem aporte teórico para nosso estudo Gaston Bachelard (1993), Yi-Fu Tuan (1980; 1983), Edward Relph (2014), dentre outros.




Deolinda Costa
É narciso uma flor bela?

Escreve Maria Lúcia Dal Farra: “A dor é, nos escritos de Florbela Espanca, tanto em prosa quanto em verso, um dos ingredientes mais íntimos e, de certeza, uma recorrência muito poderosa, o leitmotiv mais tocante. Todavia, não insufla apenas a sua obra: é componente patético da sua própria vida, pelo menos a crer nos fatos da história pessoal desta escritora nascida no final do século XIX, nas confissões que dela podemos colher através do seu Diário do último ano e das inúmeras peças epistolográficas.” (Florbela Espanca – Afinado Desconcerto). Tentar compreender a dor, que tinge de cores escuras a vida de Florbela, será o escopo deste trabalho e, para tal, recorrer-se-á ao saber da psicanálise. Isso não significa deitar a poetisa Florbela Espanca no divã (tarefa abusiva e condenada ao fracasso), mas, tão só, escutar a mulher Florbela a partir dos textos por ela produzidos (cartas, diário), que lhe sobreviveram e que, pela sua natureza, não pertencem ao domínio da criação poética. A sua biografia também será objecto de interpelação e interpretação no sentido de construir uma psicobiografia.
Palavras- chave- angústia, desamparo, narcisismo, romance familiar


Anamaria Filizola
Agustina e Florbela: os contos

No mesmo ano em que publica a biografia de Florbela Espanca (1979), Agustina assina o prefácio à edição de Máscaras do destino, publicada pela Bertrand. Das primeiras páginas, de um lirismo tocante, Agustina desenvolve associações diversas entre elas ideias complexas e fortes sobre a personalidade da poetisa, baseada nas noções nada convencionais do filósofo austríaco Otto Weininger. Esta comunicação discute a escolha dessas ideias para interpretar os contos florbelianos, considerados por Agustina como “o que melhor conduz o seu mapa biográfico”.


Renata Soares Junqueira
Florbela no cinema

Estreado no cinema aos 08/03/2012, o filme Florbela, de Vicente Alves do Ó, tem no elenco Ivo Canelas (como Apeles Espanca), Albano Jerónimo (como Mário Lage) e a talentosa Dalila Carmo, que encarnou Florbela com maestria. Louvável como reconstituição de época, o filme conduz os espectadores a uma revisitação aos “loucos anos 20”, numa altura em que Florbela, recentemente divorciada de António Guimarães (interpretado por José Neves) e casada com o médico Mário Lage, recebe de Apeles Espanca um bilhete-convite que a leva de Matosinhos a Lisboa para passar com o irmão, na capital, quatro dias que ele tinha de licença da Marinha. Muito bem acolhido pelo público português no ano de seu lançamento, o filme tem sido acusado pela crítica, aqui e acolá, de especulação – com intuito comercial – sobre a sexualidade de Florbela e sobre o decantado amor incestuoso da poetisa pelo irmão Apeles. Nesta comunicação procurarei ilibar a película, mostrando que ela se filia a uma tradição crítica – que remonta, pelo menos, à década de 1950 – empenhada em explorar a aura mítica que envolveu, desde logo, a figura carismática de Florbela Espanca. Pretendo também destacar, a título de síntese descritiva, algumas das mais belas imagens do filme e as pistas interpretativas que suscitam.

Jonas Leite
De Maria Lúcia Dal Farra para Florbela Espanca. Com Amor.

Maria Lúcia Dal Farra, eminente crítica literária, ensaísta, professora e poetisa, há mais de trinta anos dedica-se a estudar a literatura de Florbela Espanca, nas mais amplas possibilidades que esta encerra, produzindo um vasto material de leitura obrigatória para quem pretende se debruçar sobre as diversas nuances da obra da poetisa portuguesa. No entanto, há uma faceta específica na relação entre essas duas mulheres, que não se trata de um diálogo crítico, mas literário, portanto, uma conversa de poetisa para poetisa: Maria Lúcia Dal Farra, em 2015, publicou um conjunto poético denominado De Florbela para Pessoa. Com amor, imaginando um eventual encontro entre Florbela e Pessoa, na Lisboa dos anos de 1920, pois é fato que os dois poetas moraram na cidade em um mesmo momento e os dois utilizaram o elétrico lisboeta como estratégia de encontro amoroso (Fernando com Ophelia; Florbela com António Guimarães). Partindo desse lugar de intersecção na história dos dois escritores, Maria Lúcia cria um rico diálogo entre biografia e literatura, pondo em contato, por meio da ficção, as poesias de ambos, na perspectiva de que o Prince Charmant sonhado na poética de Florbela era Fernando Pessoa. A mecânica adotada por Maria Lúcia parte do pressuposto de que Florbela já tinha morrido e tem a coincidência dessas especulações. Trata-se, em última análise, de como a literatura, através da liberdade criadora, permite reinventar a ordem do factual. Dessa maneira, o presente trabalho visa analisar o referido conjunto, no afã de perceber como tais deslocamentos poéticos produzem novíssimas formas de sentido, em textos já cristalizados pela ação do Cânone Literário. Seria, enfim, o postulado de Ferreira Gullar: “traduzir uma parte na outra parte”.


Isa Severino
De Florbela para Maria Lúcia Dal Farra com gratidão... o resto é perfume

No âmbito deste congresso, presta-se uma homenagem à eminente investigadora da obra da poeta portuguesa Florbela Espanca – Maria Lúcia Dal Farra. Atendendo ao criterioso e laborioso trabalho desenvolvido pela investigadora brasileira, e através de um exercício criativo, que assenta em fontes bibliográficas, recupera-se o tom e a hipotética voz de Florbela que, neste texto, expressa a sua gratidão, evocando todo o trabalho de resgaste e reposição de factos desenvolvido por Dal Farra que retiraram a poeta portuguesa do obscurantismo, levando a sua obra além-fonteiras.




Iracema Goor Xavier
Trajetória de Florbela como tradutora

Esta comunicação dará ênfase ao trabalho de Florbela Espanca enquanto tradutora de romances franceses. Trará considerações sobre estudos já realizados a respeito dos livros traduzidos por Florbela, tendo como ponto de partida os artigos publicados pelo pesquisador Christopher Gerry. Considerando, portanto, questões que ultrapassam as fronteiras da tradução sistematizada, com o intuito de diminuir a distância entre aquele que traduz e aquele que adentra o domínio da criação literária. Também focaremos no que a autora pensava sobre o trabalho de tradução, dados estes, alcançados a partir de recolhas de depoimentos de estudiosos e de excertos obtidos através da epistolografia da autora. Traremos à luz a indignação de Florbela perante a censura de romances franceses e a sua participação ativa como assinante de revistas francesas da época. São poucos os estudos que se dirigem a este aspecto da obra florbeliana e praticamente nenhum que trata do tema como uma criação literária sua ou como um novo território que órbita no universo da tradução.


Clêuma de Carvalho Magalhães
Diálogos com a obra de Florbela Espanca: a recepção produtiva

O presente texto constitui um pequeno recorte de uma pesquisa que buscou reconstituir a história da recepção e do efeito da obra de Florbela Espanca, focalizando sua recepção produtiva. Esta vertente dos estudos de recepção refere-se à experiência de leitura que resulta numa nova produção artística. Propomo-nos, pois, a abordar a leitura dos textos de Florbela Espanca por parte de outros escritores, analisando o diálogo que a obra destes mantém com a produção literária da poetisa. Dirigimos nossa atenção especialmente a três obras da atualidade: Natália (2009), romance de Helder Macedo; Florbela (1991), texto teatral de Hélia Correia; e os livros de poesia de Adília Lopes: Clube da poetisa morta (1997) e Florbela Espanca espanca (1999), cujo diálogo com a poetisa alentejana revela o potencial artístico da escrita florbeliana e sua importância na literatura contemporânea. A comunicação estabelecida entre os textos em questão e a obra de Florbela Espanca é aqui examinada sob a perspectiva da Estética da Recepção, com base nas teorias de Hans Robert Jauss (1994), Wolfgang Iser (1979, 1996, 1999) e Hannelore Link (1980).


Tiago Salgueiro
Projeto da Casa-Museu de Florbela Espanca em Vila Viçosa

A comunicação tem por objetivo apresentar as linhas metodológicas do projeto de criação da Casa-Museu de Florbela Espanca em Vila Viçosa, projeto baseado na identificação e recolha de um acervo relacionado com o universo “florbeliano”. Pretende-se com esta iniciativa dar a conhecer o trabalho de investigação que tem vindo a ser desenvolvido, que procura valorizar um legado que se encontra em risco e que merece ser disponibilizado aos diferentes públicos. A constituição de um documento programático tem como missão a salvaguarda do espólio de Florbela e da Família Espanca, procurando em simultâneo a constituição de um espaço de memória que realce o papel da poetisa na sociedade e na cultura portuguesa da primeira metade do século XX. O aperfeiçoamento e consolidação deste projeto poderá constituir uma forma de documentar e interpretar a sua vivência, através de diferentes perspetivas de análise. A inclusão desta iniciativa no âmbito das Rotas de Turismo Literário, que estão neste momento em desenvolvimento, constitui outra das prioridades em termos estratégicos.


Andreia de Lima Andrade
Florbela e Adília: “um jogo bastante perigoso”

Florbela e Adília, duas poetas portuguesas singulares em seu tempo. Donas de uma dicção poética fortemente marcada pela subjetividade, o “eu” biográfico se entrelaça com vários outros sujeitos, na escrita de ambas as escritoras, jogando com os limites autobiográficos. Florbela Espanca trabalha no plano artístico a matéria de sua vida, de sua memória. O “eu” florbeliano é constantemente inventado, composto e recomposto, assumindo diversas posições e nomes que se multiplicam. Em Adília, vida e ficção se entrelaçam no discurso poético, em algumas entrevistas ela afirma possuir vários “eus” que convivem uns com os outros: “nasci em Portugal, não me chamo Adília, sou uma personagem de ficção científica”. Pensando sobre a literatura centrada no sujeito, à volta do autor, e considerando uma literatura há muito produzida, que ora se pode chamar de confessional e intimista, ora autoficcional, objetivamos analisar o diálogo entre vida e escrita na produção literária de Florbela Espanca e Adília Lopes.


Adriana Mello Guimarães
A imprensa periódica e Florbela Espanca

Qual foi a relação de Florbela Espanca com a imprensa? Como sabemos, desde o século XIX que os periódicos estabeleceram uma ligação de cumplicidade com os escritores e, no princípio do século XX, não foi diferente. Os jornais e as revistas difundiram críticas, publicitaram anúncios de lançamento de livros e permitiram aos autores divulgarem as suas obras de poesia e prosa.
Nos propomos identificar como era a imprensa portuguesa no início do século XX (principais características, maiores tiragens e constrangimentos) e investigar como foi a presença floberliana nos jornais. Ou seja, o nosso intuito é procurar identificar o que Florbela lia (quais os principais jornais e revistas) e em quais periódicos publicou. Inegável é que entre 1916 e 1930 vários periódicos portugueses deram protagonismo à poesia de Florbela Espanca.
Com efeito, é na imprensa que Florbela Espanca se mostra ao mundo, ainda jovem, como poeta nas páginas do suplemento Modas & Bordados do diário lisboeta O Século. Passo a passo, as páginas de vários jornais e revistas (como a Revista Portugal Feminino, A Voz Pública, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, etc) foram alimentados pela poesia de Florbela Espanca e pela crítica ao trabalho da poeta.


Elisangela da Rocha SteinmetzNuances do insólito em contos de Florbela Espanca

Partindo da leitura dos contos “As Orações de Soror Maria da Pureza” e “Mulher de perdição”, de Florbela Espanca, narrativas que pertencem, respectivamente, aos dois livros de contos que nos deixou a escritora: As máscaras do destino (1931) e O dominó preto (1982); pretendemos verificar como as instâncias do insólito/fantástico se manifestam em tais textos. Considerando para isso os estudos teóricos de Tzvetan Todorov, Filipe Furtado e David Roas, entre outros, sobre o fantástico e seus gêneros limítrofes. Assim, nossa análise aspira verificar se e até que ponto esses contos apresentam, entre outros aspectos, a ambiguidade e a incerteza características da literatura fantástica.

Fabio Mario da Silva 
Florbela e Verlaine: o diálogo das mágoas

Florbela Espanca, desde cedo, é influenciada pela literatura portuguesa e a literatura francesa, buscando dialogar com autores que ela elege como seus interlocutores, como, por exemplo, António Nobre e Eugénio de Castro. Contudo, é, certamente, graças à interlocução com Verlaine que Florbela desenvolve os temas centrais do seu livro de estreia, Livro de Mágoas, em 1919. Florbela então lê Verlaine com o intuito de dialogar com a tradição e se reafirmar como poeta e poetisa no cenário literário.

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