Resumos das Conferências
Claudia
Pazos-Alonzo
Florbela
e Maria Lúcia, clarividências
Nascida
cinquenta anos depois de Florbela Espanca, Maria Lúcia Dal Farra foi
em larga medida responsável pelo reconhecimento de sua antecessora
através de sucessivas exegeses ao longo de mais de trinta e cinco
anos, nas quais o rigor académico se encontra exemplarmente aliado a
um alto grau de empatia. Esta apresentação aborda brevemente
algumas coincidências biográficas entre as duas, enfatizando como
ambas superaram circunstâncias adversas através da clarividência
luminosa de suas respetivas escritas (no caso de Maria Lúcia
geralmente desenvolvida em contexto académico). Em seguida
debruçar-me-ei sobre a forma como Dal Farra concebe e transforma a
herança de Florbela, assente numa poética que valoriza a
performance comunicativa. O foco da sua prática criativa incidirá
aqui principalmente sobre um conjunto de poemas central na
obra Terceto para o fim dos tempos, de 2017, a saber ‘De
Florbela para Pessoa. Com amor’ no qual Dal Farra imagina, num ato
de profícua re-visão, um diálogo entre estas duas figuras
cimeiras, ambas (des)igualmente incontornáveis no panorama cultural
português das primeiras décadas do século vinte. Além disso,
iremos indagar em que medida a estrutura mais ampla desta obra de Dal
Farra ressoa ainda porventura com a prática artística de Florbela,
embora abrace necessariamente novos caminhos. Algumas linhas de força
temáticas, que vão das múltiplas 'Poéticas' apresentadas por Dal
Farra às suas inflexões deveras avassaladoras de imagens da
maternidade, colocam o seu trabalho em comunhão com a obra de
Espanca, nomeadamente através de uma genealogia alicerçada no corpo
feminino.
Ana
Luísa Vilela
La
dame à la poésie. Sentido e sentidos na poesia de Maria Lúcia Dal
Farra
Nesta
comunicação, procurarei abordar alguns poemas constantes de Livro
de Possuídos (2002) e Alumbramentos (2011), dois livros que Maria
Lúcia Dal Farra dedica ao diálogo com pintores e poetas. Nestas
duas obras, a criação poética de Maria Lúcia pode assim aliar o
momento fulgurante e arrebatado do apelo emocional, próprio da
fruição visual e sincrónica, ao tempo vagaroso do amadurecimento,
condimento e partilha, adequado ao processo de absorção lenta e
degustativa. Em ambos os livros, essa poética da incorporação
solidária e sensorial constitui, ainda e sempre, uma via para tatear
o obscuro.
Hélder
Garmes
Reflexão
e memória em Inquilina do intervalo, de Maria Lúcia Dal Farra
O
livro de contos Inquilina do intervalo, de Maria Lúcia Dal Farra,
publicado pela Editora Iluminuras em 2005, traz um conjunto de
histórias marcado pelo viés da memória. A vida de famílias de
imigrantes europeus no Brasil ganha espaço em algumas dessas
histórias, chegando a se constituir em um ciclo de contos, quando as
mesmas personagens passam de um conto a outro. O intuito dessa
comunicação e demonstrar como essa memória acaba por se constituir
em uma reflexão sobre a vida corriqueira de personagens que vivem
dramas também bastante corriqueiros, mas repletos de densidade
psicológica e valores humanitários.
Zuleide
Duarte
Florbela
Espanca, Cecília Meireles e Alphonsina Storni; diálogos (in/im)
pertinentes?
Pensar
a produção literária da poeta portuguesa Florbela Espanca em um
Portugal recém-saído do século XIX, adentrando, timidamente
o século XX, faz avultar ainda mais a importância do seu papel para
a história da mulher lusitana e sua inserção no fechado universo
"masculino" da literatura. A audácia de Florbela Espanca,
sua escrita livre das peias da censura que confinava a mulher ao
recesso do lar também encontra eco em autoras do quilate da
argentina Alphonsina Storni, a brasileira Cecília Meireles entre
tantas outras. Propõe-se a leitura de poemas das autoras, apontando
um diálogo que se estabelece a partir de escolhas temáticas e modos
de cultivar a literatura.
Flávia
Maria Corradin
Florbela
à luz da intertextualidade
Perspectiva
crítica por excelência, a intertextualidade tem-se revelado um
profícuo caminho a ser trilhado. Neste contexto foi criado o Projeto
Autor por Autor, credenciado junto ao Programa de Pós-graduação em
Literatura Portuguesa da Universidade de São Paulo e certificado
junto aos Grupos de Pesquisa do CNPq. Tal Projeto objetiva estudar
autor ou obra ou fato histórico inscrito no universo lusíada,
partindo do enfoque crítico apresentado por textos teatrais,
poéticos ou ficcionais. Graças à polifonia decorrente desta
perspectiva intertextual, confrontar-se-á a visão crítica do
intertexto com a apresentada pela bibliografia dedicada ao paradigma.
Dentro deste escopo intentamos, nesta comunicação, retomar a figura
de Florbela Espanca à luz de duas peças, ambas intituladas
Florbela, escritas em 1991 por autores nascidos em 1949, uma escrita
portuguesa Hélia Correia (*Lisboa) e outra pelo dramaturgo
brasileiro Alcides Nogueira (*Botucatu – SP). A perspectiva
intertextual exige examinarmos a relação que se estabelece entre
paradigma e intertexto, tendo em vista a busca de respostas a
questões como; qual o nível de diálogo que os textos supracitados
travam com a obra florbeliana?; qual o valor estético que as duas
peásreveam?; qual a contribuição de tais textos para a fortuna
crítica da obra de Florbela Espanca? Além de homenagear a autora de
Mágoas e Maria Lúcia dal Farra, esta comunicação pretende
homenagear Francisco Maciel Silveira, recentemente falecido,
idealizador do projeto supracitado e também do esboço desta
comunicação.
Robin
Driver
Virgem,
sedutora, castradora: as contradições de Florbela Espanca segundo
Natália Correia
No
seu prefácio para Diário do Último Ano (1982), volume que
apresenta o diário escrito por Florbela Espanca no seu último ano
de vida, Natália Correia recorre à mitologia clássica e ao
conceito do eterno feminino para pintar um retrato um tanto
contraditório da poetisa, que caracteriza pela “dualidade
sedução-castidade” da sua poesia. Com essa construção, também
traça uma estreita ligação entre a biografia e a obra de Florbela,
reflectindo e reforçando uma corrente comum na crítica escrita
acerca da poetisa.
Não
é a única vez que Florbela e a sua obra foram focalizadas pela
autora açoriana, que já tinha evocado a poetisa na sua Antologia de
Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (1965) e voltaria a tratar do
mesmo assunto no programa de televisão Mátria (1986-88) e no filme
Soror Saudade (1983).
Através
dessas e outras intervenções, Natália transforma Florbela em uma
figura quase mítica, inserindo-a em uma linhagem de autoras e
poetisas que atravessa a história da literatura portuguesa e
simultaneamente excluindo-a da mesma.
Este
estudo propõe debruçar-se sobre a representação de Florbela
Espanca e a análise da sua poesia na obra de Natália Correia, a fim
de melhor compreender o lugar que ocupa dentro das teorias desta
última sobre o sexo e a arte poética. Assim, ao conjugar essas
considerações com leituras da própria obra florbeliana,
objetiva-se problematizar o posicionamento de Natália relativamente
à poetisa e matizar a nossa compreensão das suas críticas e
elogios.
Ao
mesmo tempo, almeja-se reflectir sobre a recepção maior da obra de
Florbela a partir das perspectivas propostas por Natália, com o
duplo objetivo de contextualizar as suas posições e avaliar a sua
contribuição para os estudos florbelianos.
Marisa
Mourinha
À
procura de Florbela – entre biografia e mitografia, do caso humano
ao caso poético
Diz-se
que a obra de um poeta é a sua biografia, mas poucos autores terão
visto a sua obra poética tão secundarizada relativamente ao seu
percurso de vida como foi o caso com Florbela Espanca. Escrutinada,
insinuada, criticada e louvada, cristalizada em boatos que se
tornaram mitos fundadores, a biografia desta autora frequentemente se
sobrepõe, no imaginário público, ao conhecimento da obra, e as
narrativas biográficas condicionaram desde o início a recepção e
a interpretação da sua obra.
A
crítica, desde o início, tocou estes temas e exibiu estas
preocupações – desde a conferência de Jorge de Sena n'Os
Fenianos aos estudos que continuam a fazer-se, a promiscuidade entre
vida e obra é, neste caso, tão gritante que se torna impossível
não tomar posição. O estudioso de Florbela acha-se, então, na
situação inusitada de ter de proceder a uma espécie de
reabilitação propedêutica da autora, sem poder limitar-se a
ignorar, nos escritos que antecedem o seu, o moralismo da crítica, a
hipocrisia da abordagem, ou os danos causados por editores e
biógrafos criativos, quando não mal-intencionados (como diz
Agustina de Battelli).
O
objectivo desta comunicação é propor uma reflexão sobre o papel
do estudioso perante as ambiguidades que se lhe apresentam no caso
florbeliano, esse “caso humano” (no dizer de Régio) que tanto se
teima em constituir como caso poético.
Joëlle
Ghazarian
Florbela
Espanca, uma visão oblíqua
Na
minha comunicação, pretendo apresentar Florbela prisioneira, pela
sua própria dissidência, e livre, por dolorosamente recusar a
adaptação e a vida mutilada. A simultaneidade dessa paradoxal
contradição seria exposta através do íntimo ligamento de quatro
dimensões:
-
A sua linguagem lancinante, mas fulgurante, que fulmina.
-
A sua imersão no passado, com o seu característico desejo do
instante.
-
A relação entre o desejo, físico, e a criação absoluta do amor.
-
A criação poética, impeditiva de que a vida se encontre fora de si
mesma.
Paradoxalmente,
os seres predestinados encontram-se por vezes à beira do irrisório
e do ridículo, num desequilíbrio que os coloca entre a humilhação
e a arrogância, involuntariamente solitários, mas agindo assim
também por convicção. Ou seja, situados num terreno mental que os
lança para além da mesquinhez comum e daquilo que é a tão
limitada sociabilidade canónica. Foi por isso [por essas coisas] que
Flor passou, na vida e na escrita.
Rogéria
Alves Freire
A
subversão do papel feminino em Florbela Espanca e Mariana Alcoforado
Este
trabalho tem como propósito analisar a subversão do papel feminino
na obra das escritoras portuguesas Florbela Espanca e Mariana
Alcoforado. Ambas constroem uma imagem feminina que foge aos padrões
impostos pela sociedade portuguesa, negando o seu papel de submissão,
assumindo o desejo que habita o seu corpo e afirmando-se como
sujeito. É possível identificar o fato de que as Cartas Portuguesas
são antecedidas, estilística ou tematicamente, pelas cantigas de
amor e de amigo, e sucedidas por obras como Livro de Sóror Saudade,
de Florbela Espanca, rompendo a inércia e a resignação atribuídas
à histórica condição feminina.
Maria
Raquel Álvares
A
reinvenção do sentir poético dialógico in Livro de Mágoas, de
Florbela Espanca e Amanhã Amadrugada, de Vera Duarte.
Florbela
Espanca (1894-1930) e Vera Duarte (, duas mulheres que viveram em
épocas de mudanças ideológica, política, cultural e social. A
primeira, poetisa finissecular, contemporânea dos movimentos de uma
era caracterizada pela proclamação da Primeira República, I Guerra
Mundial e início do Estado Novo e a segunda, escritora em prosa e
poesia da pós-independência de Cabo Verde, representativa da
geração Mirabílica, defensora de ideais, igualmente numa sociedade
em mutação.
Livro
de Mágoas (ou Livro das Mágoas) (1919), o primeiro livro de poemas
de Florbela Espanca cuja escrita de forte lirismo emotivo centra-se
nas temáticas da mágoa, da dor e da saudade desenvolvidas e
articuladas em momentos sequenciais com o sonho, a procura, o desejo
e a insatisfação.
Amanhã
Amadrugada (1993), primeiro livro de poesia de Vera Duarte, cuja
escrita poética marcada por um lirismo que espelha desabafos,
confissões, inquietações e desassossegos, não foge às temáticas
postas pela escrita de Florbela Espanca
Neste
trabalho científico pretende-se acentuar as influências dialógicas
entre as duas recolhas de poemas e a reinvenção temática já vinda
do século XIX, continuada por Florbela Espanca e retomada por
contato e assimilação cultural na escrita poética de Vera Duarte.
No
que diz respeito aos dois livrinhos em versos, deve-se fundamentar
que a escrita literária de ambas instaura novos olhares de cariz
reflexivo consequente de um lirismo feminino desafiador e mutante.
Ambas pensam e sentem em verso. O poema de Vera Duarte “Mas, qual
Florbela, sinto que a minha sede de infinito é maior do que eu, do
que tudo, e por ela me ofereço” in O Arquipélago da Paixão
servirá de ligação intertextual ao conjunto dos 32 poemas do Livro
de Mágoas.
Para
apoiar esta investigação serão abordados alguns poetas e teóricos:
Paul Verlaine, Eugénio de Castro, Arthur Rimbaud, Mallarmé, Harold
Bloom, M. Bakthin, Ernest Bloch, T.S. Eliot, Julia Kristeva, John
Keats, Antero de Quental e outros.
Palavras-chave:
Florbela Espanca, Literatura Portuguesa, Vera Duarte, Literatura
Caboverdiana e dialogismo.
João
Estaca
Um
retrato da Dor nos sonetos de Florbela Espanca com focalização
no Livro de Mágoas
Desde
da descoberta de Florbela Espanca na minha juventude, percebi que o
meu trabalho de investigação no Diploma Programme passaria
incontornavelmente pela obra desta poetisa. Retomei a leitura dos
sonetos de Florbela Espanca e os poemas do Livro de Mágoas surtiram
grande impacto em mim. Por isso, estudei mais sobre eles e os temas
que eles tratam, contudo apesar da importância dos temas, não pude
deixar de admirar o engenho retórico com que Florbela verteu a sua
dor e mágoas para sonetos sublimes. Propus-me a analisar
extensivamente uma seleção de poemas em que achei a Dor como tema
central, estava determinado a apurar as imagens usadas, a retórica e
estrutura que tornam os sonetos de Florbela Espanca únicos. Estes
dão-nos acesso à sua personalidade e aos problemas que advém da
complexidade mesma. Este trabalho levou-me a descobrir este caso de
“poesia viva” de uma alma gémea e de igual genialidade como
Fernando Pessoa considerava.
Adriana
Sacramento e Iracema Goor Xavier
Corpo
político: espaço de arte, literatura e liberdade em “Terceto para
o fim dos tempos”, de Maria Lúcia Dal Farra.
Este
texto é parte dos estudos realizados, por meio de atividade
pós-doutoral, com a Universidade Autônoma de
Tamaulipas/Tampico/México e parte concernente aos estudos produzidos
por meio do grupo de pesquisa “Figurações do Feminino: Florbela
et alii”. Neste campo de interlocução, pretendemos escrutinar a
poética feminina (autoral) como um discurso de liberdade e de
consciência de si, e que, por isso mesmo, engendra um corpo/espaço
político. O que visualizamos é que, através deste estudo, venha à
tona certa tópica sobre o feminino que descortine e revele uma voz
autoral possuída de liberdade e que rompa a circunscrição dos
espaços e das relações sociais castradoras. Nessa medida, essas
vozes produzem corpos políticos. É o que veremos eclodir na
poesia de Maria Lúcia Dal Farra em seu “Terceto para o fim dos
tempos”. Para tanto, usaremos como fonte de pesquisa teórica o
texto de Marcuse “Eros e Civilização”.
Patrícia
da Silva Cardoso
As
palavras e suas formas concretas. Uma poética de Fiama Hasse Pais
Brandão
Um
dos motivos para celebrar-se a atividade de Maria Lúcia dal Farra
como crítica literária é a facilidade e propriedade com que se
desloca entre autores e temas, numa carreira que, tendo um objeto de
eleição mais do que declarado – a Florbela que figura ao seu lado
no quadro das homenagens deste evento –, é capaz de abarcar poesia
e prosa, oferecendo a quem a acompanhe um exemplo de que para ser-se
um especialista é preciso conhecer-se o fenômeno literário de
maneira ampla. É o que se encontra no seu artigo “O cisne e seu
canto: leitura dos poemas de Fiama por Adília Lopes ou Fiama na
letra de Adília”, em que sua erudição é mobilizada para dar
conta de um diálogo literário que inscreve as duas poetisas do
título numa densa reflexão sobre o lugar da poesia. Inspirada por
essa trajetória de Maria Lúcia, nesta comunicação proponho-me a
voltar a Fiama procurando pensar sobre como ela aborda o lugar da
literatura tanto em sua obra poética homenagem à literatura como no
romance Sob o olhar de Medeia.
Rafael
Campos Quevedo
Metáfora
náutica na lírica amorosa de Maria Lúcia Dal Farra
Propõe-se
uma reflexão acerca do emprego de uma metáfora pertencente ao
patrimônio da poesia ocidental, a metáfora náutica, na obra da
poeta brasileira Maria Lúcia dal Farra (2011) especialmente no poema
intitulado “Amor” (do livro Alumbramentos de 2011).
Para esse objetivo, discute-se a metáfora náutica como um topos da
poesia tradicional à luz das considerações de Ernst Robert
Curtius, verificam-se casos exemplares de seu emprego colhidos da
tradição e, também, de poetas contemporâneas brasileiras (como
Ana Cristina César [1979], Orides Fontela [1983], Neide Archanjo
[1984] e Hilda Hilst [1989]). Por fim, parte-se para a análise
do corpus tentando averiguar possíveis deslocamentos,
variações e marcas que sirvam como indício de uma reconfiguração
feminina da metáfora poética da viagem marítima em sua relação
com a temática amorosa.
Matteo
Pupilo
Traduzir
FlorLúcia em italiano
Esta
comunicação visa abrir um espaço de reflexão, quer de natureza
tradutológica, quer meramente literária, sobre alguns poemas de
Maria Lúcia Dal Farra que eu publiquei em Itália graças à revista
“Atelier Internazionale”. Nessa mesma revista, as traduções
saíram acompanhadas de uma entrevista, onde a poetisa, entre as
várias perguntas, revela que “escrever é sempre uma imensa,
enorme, transbordante, inimaginável, dolorosa alegria”. A poesia
de Maria Lúcia Dal Farra nasce de uma “mistureba” étnica e
artística, como ela própria diz na entrevista mencionada, sendo
que, para a autora, a Poesia é um lugar privilegiado onde misturar
Arte, memórias e encontros (imaginários e reais) com autores mortos
e vivos. Em última análise, sentindo a necessidade de dar a
conhecer uma obra que considero "inter-artes", venho lançar
um novo desafio editorial: de modo a suprimir a ausência de
traduções no mercado editorial italiano, pensei em lançar uma
antologia poética traduzida para “la lingua del Sì”.
Deolinda
Adão
Diálogos
Poéticos em Tons de Lilás e Roxo.
Neste
trabalho, o nosso objetivo primordial é fazer uma leitura das obras
de Florbela Espanca e Maria Lúcia Dal Farra desde uma perspectiva
feminista, mais especificamente analisar a forma como as respectivas
obras desenvolvem um processo de identidade feminina tanto ao nível
individual como colectivo. Estas duas poetas, uma ávida estudante da
outra, complementam-se, sendo uma a poeta da introspeção e a outra
a da contemplação. Assim, se Florbela nos transporta ao interior do
mundo feminino em todas as suas nuances, Maria Lúcia leva-nos à
centralidade do pensamento feminino sobre a sociedade e o mundo que
nos rodeia. Ambas se constroem e nos constroem, por via de uma
escrita dotada de complexidades que a cada momento evidenciam o cerne
do espaço do feminino nas suas respetivas sociedades e nos
transmitem vozes femininas que assumem agência absoluta sobre os
seus respetivos processos de construção de identidade.
Maria
Cristina Pais Simon
A
escrita da natureza na obra de Florbela Espanca
A
natureza e a paisagem, em particular as do Alentejo, contextualizam
sistematicamente os textos de Florbela Espanca como testemunhos da
sua vida interior. Pretende-se nesta comunicação analisar, na sua
simbólica,
os elementos paisagísticos mais recorrentes e observar a variação
da focalização ao longo da obra e da vida atribulada da « filha
da charneca ».
Maria
do Carmo Mendes
Eros
e Thanatos: a poesia de Florbela
Indelevelmente
marcada por um percurso biográfico tumultuoso, a obra de Florbela
Espanca revela uma íntima associação entre Amor e Morte. Entendido
como irrealização terrena, o Amor é projetado numa dimensão
transcendente, geradora de angústia permanente.
Esta
comunicação tem, assim, como principais propósitos: 1) Aprofundar
a relação entre Amor e Morte na obra poética florbeliana; 2)
Sublinhar o relevo da busca constante da concretização amorosa; 3)
Pôr em evidência o papel precursor da obra de Florbela no contexto
da poesia portuguesa, pela afirmação do papel feminino na procura
da plenitude amorosa.
Isabel
Ponce de Leão
Florbela
– um absoluto icárico
A
vida e a obra de Florbela estão marcadas pelo desejo do absoluto
que, naturalmente inatingível, gera desesperos e angústias que
explodem, incontrolada e orgásticamente, numa literatura onde
lirismo e drama se imbricam. Reflectirei nesta iteração geradora do
hibridismo textual.
Antonio
Alías
Ser
poeta: consciência crítica e pensamento poético em Florbela
Espanca.
Longe
dos tópicos modernistas em que a poesia de Florbela Espanca foi
entendida, alguns dos seus poemas mostram uma consciência crítica
em torno da figura do poeta ("Ser poeta") e que, não
entanto, mantém a formulação de uma crise auto-contemplativa ou
auto-referencial própria da condição do poeta. Assim, o gesto
reflexivo de Florbela Espanca apenas aborda questões de identidade,
mas a própria possibilidade de escrita vinculada, como ocorreu em
algumas das poéticas mais importantes do romantismo, a uma
consciência estética que busca legitimar, assim por meio da
auto-exploração, a propensão especulativa das formas da escrita
moderna. Nesse sentido, a proposta de comunicação tentará
aprofundar sobre essas questões nos poemas da poeta portuguesa, ao
mesmo tempo que legitima a sua poesia como um lugar de pensamento
(poético) na modernidade literária.
Algemira
de Macêdo Mendes e Joselita Izabel de Jesus
Um
olhar feminino sobre Charneca em Flor, de Florbela Espanca
O
presente trabalho tem como objetivo oferecer uma leitura sob o olhar
feminino do livro Charneca em flor (1931), da poetisa lusitana
Florbela d’Alma da Conceição Espanca (1894-1930), autora
considerada uma das maiores vozes feminina da poesia portuguesa do
século XX e, quiçá, de todos os tempos. Poetisa plural, Florbela
não limitou sua arte poética a apenas uma temática. A autora
abordou, em seus poemas, temáticas como a angústia, a solidão o
desencanto pela vida e, sobretudo, a dor. No entanto, dentre os
diversos temas que podem ser encontrados no fazer poético de
Espanca, há um que sobressai, principalmente na obra objeto desse
estudo: trata-se da temática do amor erótico. Este será o
princípio que norteará nossa abordagem interpretativa da obra
Charneca em flor. Para tanto, recorreremos a autores, como: BATAILLE
(2004), DURIGAN (1985), DAL FARRA (2001), para fundamentar as
possíveis análises no decorrer da leitura da obra, evidenciando os
elementos pelos quais o eu lírico expressa o desejo feminino na
poesia de Florbela Espanca.
António
Laginha
A
poesia de Florbela Espanca na dança portuguesa: dois casos de estudo
Pela mão de Terpsícore - a musa da Dança - três coreógrafos aventuraram-se
nos domínios de Erato e de Florbela Espanca. Homenagem a Florbela e
Florbela, respectivamente de Norman Dixon e da dupla Liliane Viegas - José
Arantes, são duas obras históricas que, em momentos diferentes e dentro de
enquadramentos estéticos quase opostos, mostram duas Florbela-poetisa
imaginadas por artistas da Dança. Através de dois curtos excertos de obras
filmadas pela RTP (em 63 e 89) mostra-se como o bailado tem proporcionado um
campo fértil para um diálogo curioso e profícuo entre a poesia e a dança. E,
mais precisamente, entre os sonetos de Florbela Espanca e a Dança
Portuguesa.
Aldinida
Medeiros
A
charneca Terra Mater na escrita florbeliana
Esta
comunicação parte da observação de como a Charneca, que dá nome
a um dos livros e seu poema de abertura – Charneca em Flor – da
altaneira poeta alentejana, é um termo importante em sua poética.
Em diversas situações, Florbela Espanca apresenta o termo não
apenas remetendo a sua admiração e envolvimento com a Charneca, mas
tecendo uma relação identitária com sua variada flora,
principalmente com as urzes, planta arbustiva que tem pequenas e
delicadas flores de cor lilás. Com base nesta observação, buscamos
evidenciar uma relação simbiótica do eu poético com o espaço que
é de memórias e afeto, confluindo para uma poética do espaço que
motiva e ao mesmo tempo encontra ressonância nos diversos estados de
Florbela Espanca. Constituem aporte teórico para nosso estudo Gaston
Bachelard (1993), Yi-Fu Tuan (1980; 1983), Edward Relph (2014),
dentre outros.
Deolinda
Costa
É
narciso uma flor bela?
Escreve
Maria Lúcia Dal Farra: “A dor é, nos escritos de Florbela
Espanca, tanto em prosa quanto em verso, um dos ingredientes mais
íntimos e, de certeza, uma recorrência muito poderosa, o leitmotiv
mais tocante. Todavia, não insufla apenas a sua obra: é componente
patético da sua própria vida, pelo menos a crer nos fatos da
história pessoal desta escritora nascida no final do século XIX,
nas confissões que dela podemos colher através do seu Diário do
último ano e das inúmeras peças epistolográficas.” (Florbela
Espanca – Afinado Desconcerto). Tentar
compreender a dor, que tinge de cores escuras a vida de Florbela,
será o escopo deste trabalho e, para tal, recorrer-se-á ao saber da
psicanálise. Isso não significa deitar a poetisa Florbela Espanca
no divã (tarefa abusiva e condenada ao fracasso), mas, tão só,
escutar a mulher Florbela a partir dos textos por ela produzidos
(cartas, diário), que lhe sobreviveram e que, pela sua natureza, não
pertencem ao domínio da criação poética. A sua biografia também
será objecto de interpelação e interpretação no sentido de
construir uma psicobiografia.
Palavras-
chave- angústia, desamparo, narcisismo, romance familiar
Anamaria
Filizola
Agustina
e Florbela: os contos
No
mesmo ano em que publica a biografia de Florbela Espanca (1979),
Agustina assina o prefácio à edição de Máscaras do destino,
publicada pela Bertrand. Das primeiras páginas, de um lirismo
tocante, Agustina desenvolve associações diversas entre elas ideias
complexas e fortes sobre a personalidade da poetisa, baseada nas
noções nada convencionais do filósofo austríaco Otto Weininger.
Esta comunicação discute a escolha dessas ideias para interpretar
os contos florbelianos, considerados por Agustina como “o que
melhor conduz o seu mapa biográfico”.
Renata
Soares Junqueira
Florbela
no cinema
Estreado
no cinema aos 08/03/2012, o filme Florbela, de Vicente Alves do Ó,
tem no elenco Ivo Canelas (como Apeles Espanca), Albano Jerónimo
(como Mário Lage) e a talentosa Dalila Carmo, que encarnou Florbela
com maestria. Louvável como reconstituição de época, o filme
conduz os espectadores a uma revisitação aos “loucos anos 20”,
numa altura em que Florbela, recentemente divorciada de António
Guimarães (interpretado por José Neves) e casada com o médico
Mário Lage, recebe de Apeles Espanca um bilhete-convite que a leva
de Matosinhos a Lisboa para passar com o irmão, na capital, quatro
dias que ele tinha de licença da Marinha. Muito bem acolhido pelo
público português no ano de seu lançamento, o filme tem sido
acusado pela crítica, aqui e acolá, de especulação – com
intuito comercial – sobre a sexualidade de Florbela e sobre o
decantado amor incestuoso da poetisa pelo irmão Apeles. Nesta
comunicação procurarei ilibar a película, mostrando que ela se
filia a uma tradição crítica – que remonta, pelo menos, à
década de 1950 – empenhada em explorar a aura mítica que
envolveu, desde logo, a figura carismática de Florbela Espanca.
Pretendo também destacar, a título de síntese descritiva, algumas
das mais belas imagens do filme e as pistas interpretativas que
suscitam.
Jonas
Leite
De
Maria Lúcia Dal Farra para Florbela Espanca. Com Amor.
Maria
Lúcia Dal Farra, eminente crítica literária, ensaísta, professora
e poetisa, há mais de trinta anos dedica-se a estudar a literatura
de Florbela Espanca, nas mais amplas possibilidades que esta encerra,
produzindo um vasto material de leitura obrigatória para quem
pretende se debruçar sobre as diversas nuances
da obra da poetisa portuguesa. No entanto, há uma faceta específica
na relação entre essas duas mulheres, que não se trata de um
diálogo crítico, mas literário, portanto, uma conversa de poetisa
para poetisa: Maria Lúcia Dal Farra, em 2015, publicou um conjunto
poético denominado De Florbela para Pessoa. Com amor, imaginando um
eventual encontro entre Florbela e Pessoa, na Lisboa dos anos de
1920, pois é fato que os dois poetas moraram na cidade em um mesmo
momento e os dois utilizaram o elétrico lisboeta como estratégia de
encontro amoroso (Fernando com Ophelia; Florbela com António
Guimarães). Partindo desse lugar de intersecção na história dos
dois escritores, Maria Lúcia cria um rico diálogo entre biografia e
literatura, pondo em contato, por meio da ficção, as poesias de
ambos, na perspectiva de que o Prince Charmant sonhado na poética de
Florbela era Fernando Pessoa. A mecânica adotada por Maria Lúcia
parte do pressuposto de que Florbela já tinha morrido e tem a
coincidência dessas especulações. Trata-se, em última análise,
de como a literatura, através da liberdade criadora, permite
reinventar a ordem do factual. Dessa maneira, o presente trabalho
visa analisar o referido conjunto, no afã de perceber como tais
deslocamentos poéticos produzem novíssimas formas de sentido, em
textos já cristalizados pela ação do Cânone Literário. Seria,
enfim, o postulado de Ferreira Gullar: “traduzir uma parte na outra
parte”.
Isa
Severino
De
Florbela para Maria Lúcia Dal Farra com gratidão... o resto é
perfume
No
âmbito deste congresso, presta-se uma homenagem à eminente
investigadora da obra da poeta portuguesa Florbela Espanca – Maria
Lúcia Dal Farra. Atendendo ao criterioso e laborioso trabalho
desenvolvido pela investigadora brasileira, e através de um
exercício criativo, que assenta em fontes bibliográficas,
recupera-se o tom e a hipotética voz de Florbela que, neste texto,
expressa a sua gratidão, evocando todo o trabalho de resgaste e
reposição de factos desenvolvido por Dal Farra que retiraram a
poeta portuguesa do obscurantismo, levando a sua obra além-fonteiras.
Iracema
Goor Xavier
Trajetória
de Florbela como tradutora
Esta
comunicação dará ênfase ao trabalho de Florbela Espanca enquanto
tradutora de romances franceses. Trará considerações sobre estudos
já realizados a respeito dos livros traduzidos por Florbela, tendo
como ponto de partida os artigos publicados pelo pesquisador
Christopher Gerry. Considerando, portanto, questões que ultrapassam
as fronteiras da tradução sistematizada, com o intuito de diminuir
a distância entre aquele que traduz e aquele que adentra o domínio
da criação literária. Também focaremos no que a autora pensava
sobre o trabalho de tradução, dados estes, alcançados a partir de
recolhas de depoimentos de estudiosos e de excertos obtidos através
da epistolografia da autora. Traremos à luz a indignação de
Florbela perante a censura de romances franceses e a sua participação
ativa como assinante de revistas francesas da época. São poucos os
estudos que se dirigem a este aspecto da obra florbeliana e
praticamente nenhum que trata do tema como uma criação literária
sua ou como um novo território que órbita no universo da tradução.
Clêuma
de Carvalho Magalhães
Diálogos
com a obra de Florbela Espanca: a recepção produtiva
O
presente texto constitui um pequeno recorte de uma pesquisa que
buscou reconstituir a história da recepção e do efeito da obra de
Florbela Espanca, focalizando sua recepção
produtiva.
Esta vertente dos estudos de recepção refere-se à experiência de
leitura que resulta numa nova produção artística. Propomo-nos,
pois, a abordar a leitura dos textos de Florbela Espanca por parte de
outros escritores, analisando o diálogo que a obra destes mantém
com a produção literária da poetisa. Dirigimos nossa atenção
especialmente a três obras da atualidade: Natália
(2009), romance de Helder Macedo; Florbela
(1991), texto teatral de Hélia Correia; e os livros de poesia de
Adília Lopes: Clube
da poetisa morta
(1997) e Florbela
Espanca espanca
(1999), cujo diálogo com a poetisa alentejana revela o potencial
artístico da escrita florbeliana e sua importância na literatura
contemporânea. A comunicação estabelecida entre os textos em
questão e a obra de Florbela Espanca é aqui examinada sob a
perspectiva da Estética da Recepção, com base nas teorias de Hans
Robert Jauss (1994), Wolfgang Iser (1979, 1996, 1999) e Hannelore
Link (1980).
Tiago
Salgueiro
Projeto
da Casa-Museu de Florbela Espanca em Vila Viçosa
A
comunicação tem por objetivo apresentar as linhas metodológicas do
projeto de criação da Casa-Museu de Florbela Espanca em Vila
Viçosa, projeto baseado na identificação e recolha de um acervo
relacionado com o universo “florbeliano”. Pretende-se com esta
iniciativa dar a conhecer o trabalho de investigação que tem vindo
a ser desenvolvido, que procura valorizar um legado que se encontra
em risco e que merece ser disponibilizado aos diferentes públicos. A
constituição de um documento programático tem como missão a
salvaguarda do espólio de Florbela e da Família Espanca, procurando
em simultâneo a constituição de um espaço de memória que realce
o papel da poetisa na sociedade e na cultura portuguesa da primeira
metade do século XX. O aperfeiçoamento e consolidação deste
projeto poderá constituir uma forma de documentar e interpretar a
sua vivência, através de diferentes perspetivas de análise. A
inclusão desta iniciativa no âmbito das Rotas de Turismo Literário,
que estão neste momento em desenvolvimento, constitui outra das
prioridades em termos estratégicos.
Andreia
de Lima Andrade
Florbela
e Adília: “um jogo bastante perigoso”
Florbela
e Adília, duas poetas portuguesas singulares em seu tempo. Donas de
uma dicção poética fortemente marcada pela subjetividade, o “eu”
biográfico se entrelaça com vários outros sujeitos, na escrita de
ambas as escritoras, jogando com os limites autobiográficos.
Florbela Espanca trabalha no plano artístico a matéria de sua vida,
de sua memória. O “eu” florbeliano é constantemente inventado,
composto e recomposto, assumindo diversas posições e nomes que se
multiplicam. Em Adília, vida e ficção se entrelaçam no discurso
poético, em algumas entrevistas ela afirma possuir vários “eus”
que convivem uns com os outros: “nasci em Portugal, não me chamo
Adília, sou uma personagem de ficção científica”. Pensando
sobre a literatura centrada no sujeito, à volta do autor, e
considerando uma literatura há muito produzida, que ora se pode
chamar de confessional e intimista, ora autoficcional, objetivamos
analisar o diálogo entre vida e escrita na produção literária de
Florbela Espanca e Adília Lopes.
Adriana
Mello Guimarães
A
imprensa periódica e Florbela Espanca
Qual
foi a relação de Florbela Espanca com a imprensa? Como sabemos,
desde o século XIX que os periódicos estabeleceram uma ligação de
cumplicidade com os escritores e, no princípio do século XX, não
foi diferente. Os jornais e as revistas difundiram críticas,
publicitaram anúncios de lançamento de livros e permitiram aos
autores divulgarem as suas obras de poesia e prosa.
Nos
propomos identificar como era a imprensa portuguesa no início do
século XX (principais características, maiores tiragens e
constrangimentos) e investigar como foi a presença floberliana nos
jornais. Ou seja, o nosso intuito é procurar identificar o que
Florbela lia (quais os principais jornais e revistas) e em quais
periódicos publicou. Inegável é que entre 1916 e 1930 vários
periódicos portugueses deram protagonismo à poesia de Florbela
Espanca.
Com
efeito, é na imprensa que Florbela Espanca se mostra ao mundo, ainda
jovem, como poeta nas páginas do suplemento Modas & Bordados do
diário lisboeta O Século. Passo a passo, as páginas de vários
jornais e revistas (como a Revista Portugal Feminino, A Voz Pública,
Diário de Lisboa, Diário de Notícias, etc) foram alimentados pela
poesia de Florbela Espanca e pela crítica ao trabalho da poeta.
Elisangela
da Rocha SteinmetzNuances
do insólito em contos de Florbela Espanca
Partindo
da leitura dos contos “As Orações de Soror Maria da Pureza” e
“Mulher de perdição”, de Florbela Espanca, narrativas que
pertencem, respectivamente, aos dois livros de contos que nos deixou
a escritora: As máscaras do destino (1931) e O
dominó preto (1982); pretendemos verificar como as
instâncias do insólito/fantástico se manifestam em tais textos.
Considerando para isso os estudos teóricos de Tzvetan Todorov,
Filipe Furtado e David Roas, entre outros, sobre o fantástico e seus
gêneros limítrofes. Assim, nossa análise aspira verificar se e até
que ponto esses contos apresentam, entre outros aspectos, a
ambiguidade e a incerteza características da literatura fantástica.
Fabio
Mario da Silva
Florbela
e Verlaine: o diálogo das mágoas
Florbela
Espanca, desde cedo, é influenciada pela literatura portuguesa e a
literatura francesa, buscando dialogar com autores que ela elege como
seus interlocutores, como, por exemplo, António Nobre e Eugénio de
Castro. Contudo, é, certamente, graças à interlocução
com Verlaine que Florbela desenvolve os temas centrais do
seu livro de estreia, Livro de Mágoas, em 1919. Florbela então
lê Verlaine com o intuito de dialogar com a tradição e
se reafirmar como poeta e poetisa no cenário literário.
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